terça-feira, 1 de novembro de 2011

11 meses

O tempo passa e eu as palavras se dissolvem no mesmo.
Os pensamentos diluem. Os sentimentos se contundem, se enroscam, dão nó.
Nó esse que fica estagnado na minha garganta. Nó esse que não deixa eu esquecer que tenho um grande vazio na minha casa, no meu dia, na minha vida. Nó esse que faz a ausência permanecer ali, paradinha me olhando. Me vigiando.
Eu gostaria de desdar esse nó. De transformá-lo em uma saudade boa. Aquela saudade misturada com a certeza de que nos encontraremos um dia. Muito em breve, nas devidas proporções.
Eu queria pegar esse nó e digerí-lo. Queria dizer em alto e bom som que aceito as nossas circunstâncias e que tenho certeza que conseguiremos viver sem ela. Eu sei que viveremos... só não sei a qualidade desse tempo.
Esse buraco na minha vida me suga. Me puxa. Todos os dias... Eu acordo à beira dele. Eu durmo à beira dele. Eu faço de tudo pra sair da iminência da caída. Mas a força dele é grande perto da minha. Eu sei que uma hora ele vai parar de puxar.
Enquanto isso estou aqui, agarrada em qualquer saliência no chão para não ser puxada com tudo.
Quanto mais cultivo bons pensamentos, menos cansada me sinto, mais força tenho pra me segurar.
Eu sei que ela está aqui, em algum lugar, se preocupando, como sempre. Mas sei que ela não demorará pra nos "entregar na mão de Deus" - como costumava dizer, e confiar pra seguir seu caminho. Assim como nós seguiremos o nosso... até que nos encontremos ali na frente.
A falta de uma mãe como essa é tão profunda e intensa que parece insuportável.
Mas só parece... Como a própria dona Lala dizia: "Filha, a vida é essa mesmo... um dia a gente vai se separar... e é natural, a gente tem que se acostumar."

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

oito

8 meses.
8 meses do pior dia da minha vida. Do dia que se passar perto da minha memória já enche meus olhos. Lembro das feições, da sensação de tudo desabando. Lembro da incerteza de poder continuar... Lembro do vazio profundo daquele dia. Lembro do pesadelo que a vida se tornara...
... a partir daquele dia.
Quando penso que faz 8 longos meses sem minha melhor amiga, minha companheira, minha cúmplice... minha cabeça dá um nó, meu coração se contorce.
Eu fico aqui tentando ficar bem, mas acho que estranho seria se eu tivesse bem. São 8 longos meses, mas pro emocional parece que foi ontem. Eu sinto como se tivesse sido ontem. A cabeça dói e o corpo parece adoecer.
No dia-a-dia tento passar batido pelos sentimentos, acumulando-os para uma outra oportunidade. É isso que muda com o tempo. Não melhora, não ameniza, não esquece... a gente apenas aprende a guardá-lo pra poder seguir em frente.
Essa tarefa é árdua. É tão difícil quanto parece.
Penso no sorriso dela. Penso em como estaria feliz vendo nossas vitórias e me vendo aqui em Brasília novamente.
Voltar pra casa é como conviver com a ausência mais forte do que nunca.
Oito meses que a vida se tornou mais triste e mais difícil.
Mas por ela, a gente segue. A gente reconstrói. A gente tira força de onde não tem... e faz o que ela estaria fazendo: seguindo.
É tanto amor, tanta saudade...






terça-feira, 12 de julho de 2011

...

São sete meses de altos e baixos.

Convivo com sentimentos contraditórios, alguns ainda desconhecidos e outros que passei a conhecer bem.

Ainda sou invadida por um frio na boca do estômago quando penso no que aconteceu e meus olhos enchem de lágrimas quando penso nela.

Reflito diariamente na falta que minha mãe faz, na pessoa que era e no que nos diria se pudesse nos falar agora. Rezo diariamente e peço com muita força para ter apenas um sonho lúcido, um encontro, um abraço, algumas palavras, para ter a certeza de que continua a existir em algum lugar e que está bem, linda e feliz.

Entre as contradições, os ciclos. O primeiro foi a convicção de que “era para ser”, de que foi uma passagem indolor e, apesar de súbita, “desejada”, já que sempre pediu para si e para os queridos uma morte sem doenças. Depois, o por quê? Por que perdi minha mãe de uma forma tão abrupta, tão estúpida, tão sem por quê? Dormiu e não acordou. É isso? E não pudemos nos preparar? Nem tivemos tempo de imaginar que isso poderia acontecer?

Perdi muito da minha vontade de falar, de sair, de trabalhar, de conviver, de compartilhar. Perdi um pouco da minha paciência para o convívio social, para conversas de bar, ou mesmo para as mais profundas, íntimas. Para todo mundo, parece que passou. Todos parecem achar que já estamos bem. E parecem ter perdido um pouco da paciência para ouvir sobre a dor que passou a morar dentro de nós. Tudo bem, também perdi a vontade de falar.

Sei que tudo vai ser amenizado com o tempo e que hei de recuperar o prazer pelas pequenas coisas da vida. Muita coisa ainda há de acontecer e imagino que são essas coisas que vão voltar a colorir o dia. Mas, no momento, elas parecem distantes. Vivo sem grandes alegrias.

Dos meus olhos transbordam lágrimas de saudade quando falo dela e dentro de mim passa um filme randômico de todas as lembranças de uma vida inteira. Dói a saudade que vejo nos olhos do meu pai, das minhas irmãs e dos meus avós, que se emocionam quando buscam na gente um pedacinho dela.

E assim, sete meses se passaram.

sábado, 9 de julho de 2011

7 meses

7 meses sem você.
Tem hora que me deparo com uma foto sua, ou com algum comentário seu na minha memória.
Difícil conter a saudade, difícil conter as lágrimas.
Fico até com medo de sentir essa saudade plenamente. Medo de ser consumida por ela.
Mas estamos tentando fazer tudo como se você estivesse fazendo: seguindo.
Passando por cima de algumas fraquezas... Sendo forte.
Ontem cheguei em casa, depois de dirigir sozinha do trabalho, e quis muito te contar essa peripécia. Parece que esqueci momentaneamente que eu não poderia fazer isso do jeito convencional.
É difícil, viu mãe.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Lala, Lainha.

Eu penso o tempo inteiro nela. É algo que parece que já faz parte de mim. Essa parte melancólica que parece ora acreditar demais, ora acreditar de menos. E aí vem o susto. Me dou conta de que não é um pesadelo, não é mentirinha. A Lala não tá mais aqui com a gente.
E já fazem 4 meses e meio e essa montanha russa de saudade me invade desde as primeiras horas do dia até os últimos minutos da noite.
Lembro do sorriso dela, de quando me abraçava e me chamava de "amor da minha vida". Lembro dela me levando pra passear e visitar as pessoas, rindo das minhas histórias. Ficava vendo eu experimentar as roupas nas lojas e palpitando. Todas as vezes que eu me machucava, ligava pra minha "médica" de plantão que sabia como tratar. E quando de repente chegava uma caixinha do correio com algum vestidinho que ela achou a minha cara? Ela mandava cartinhas contando dos acontecimentos.
E daí me vem a suspresa. Ela não tá mais aqui, coração, entenda de uma vez!
Começa a aparecer flashs do dia 5 de dezembro, a notícia, o olhar dos familiares, o sentimento de ter o teu chão, o teu céu, tua referência retirada de supetão.
Fica difícil olhar as fotos, fica difícil praticar o "lembrar". Tudo dói.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Quatro meses

Amanhã.

Quatro infinitos meses de uma infinita saudade.

Das fases do luto, penso, já passamos por várias. Até o mais crédulo dos crédulos passa pela fase do por que. Por que? Por que? Como assim não está mais aqui?

As fichas caem uma por dia, ou por hora, por minuto.

Sinto falta dela todo o tempo e sofro mais ainda ao escutar o choro de quem, como eu, ficou aqui...
... tentando entender.

Tem um buraco dentro do peito, na boca do estômago. Um vazio permanente, uma sensação de que fingimos que vamos dar conta.

Depois de tantos anos, aprendemos a ser família perfeita. Fomos companheiros, compartilhamos alegrias, vitórias, tristezas.

E ela estava sempre ali, enchendo a casa com sua presença.

Coleciono lembranças. Da infância ao dia 5 de dezembro do ano passado, lembro de todos os
momentos: de quando me ensinou pacientemente a escrever; de quando ficava cheia de manchas
de nervosismo quando aprendeu a dirigir, grávida da Nata; de quando me acompanhou na primeira endoscopia e riu de como fiquei chapada e comprei uma réstia de alho na porta do hospital; da gratidão e orgulho que sentia quando podia dividir com ela uma noite no hospital para cuidar do vovô ou da vovó; da euforia que ficava quando comprava presentes; dos vários churrascos apenas entre nós, na chácara.... e tantas, tantas, tantas lembranças.

Se ela me preparou para o dia que não estaria mais aqui, por que não acreditei que isso de fato poderia acontecer?


Mãe, o que faço agora com a sua falta?